Capítulo 2

A van passou lá em casa na hora combinada e seguimos para a agência. Estava morto de sono, só consegui adormecer às 4h da manhã. Rober ia puxando meu saco pelo caminho. 

- Será que as dançarinas vão estar por lá? 

- Não sei cara, mas se estiverem não são pro seu bico com certeza. - zoei. 

- Fala o garanhão da área. 

- Pego mais do que você que só sabe pegar gripe. - todos rimos e Rober me olhou chateado. 

- Você é o artista, normal pegar mais, tem fama né? - disse óbvio. 

- Mas também sou o mais gostoso, normal isso também. - brinquei mais uma vez. 

- Cê não é Avé Maria mas está cheio de graça.

Chegámos no local uma meia hora depois, naquela manhã estava reservado só pra gente para não haver tumulto. Íamos sempre nessa agência para selecionar o pessoal dos clipes. Roberto, o recepcionista, veio nos receber. 

- É uma honra receber você de novo Luan, estamos sempre a par de todo o seu trabalho e agora ansiosos para esse novo DVD.

- Obrigado cara, depois envio DVD's para todo o mundo quando for lançado. 

- O Paulo está no escritório, ele teve uma pequena reunião e audição de última hora pra fazer com uma menina, mas não demora muito. 

- A gente espera, não tem problema. 

- Roberto será que é possível nos mostrar alguns catálogos dos perfis das candidatas por favor? - Arleyde adiantou serviço. 

- Claro, se sentem que eu já volto. 

A copeira apareceu ali para nos servir sucos, água e café. Roberto trouxe dois catálogos e começamos vendo. Eu não tinha definido um perfil mas eu sabia que assim que visse as opções me decidiria por uma menina. Arleyde, sempre foi mais metódica e, por isso, lia todo o percurso das candidatas, dizia ela ser interessante para saber da dedicação e profissionalismo delas. Para mim isso pouco importava, só queria alguém com quem conseguisse ter alguma química para criar um clipe diferente. Dudu torcia o nariz a algumas, assim como eu, pois não se encaixavam naquilo que procurávamos. 

- Será que o Paulo ainda demora Roberto? - perguntei já cansado de ver tanto perfil e nenhum me atrair. 

- Eu vou lá ver cara. 

- Deixa que eu vou. Preciso dar uma pausa aqui mesmo. Cê se importa? 

- Claro que não, assim ele até se apressa. - riu e me levantei indo para a sala onde Paulo estava. 

Rober veio comigo e assim que ia bater na porta ela se abriu me fazendo tropeçar em alguém.

- Cuidado moça. - a segurei e aquele perfume me era familiar. 

- Ah não. - ela resmungou e reconheci ser Maria Clara.

- O que você... Porque está chorando? - me preocupei ao ver o seu rosto coberto de lágrimas que ela não consegui controlar. 

- Não te interessa. - se soltou e saiu correndo.

- Espera Ma... - fiquei pelo meio do chamado quando a vi cruzar a porta de saída. - Rober vai atrás. 

- Eu? Nem sei quem é a doida. 

- Rober vai atrás cara, ela é irmã do Hugo, vê se ela fica bem por favor.

- A essa hora ela já vazou. - falou desinteressado e me irritei com a sua passividade. 

- Puta que pariu Rober, eu mandei você ir atrás, dá pra fazer o que eu mando? - falei impaciente e ele levantou as mãos se desculpando e saindo em seguida. 

Fiquei super preocupado com ela e só acordei dos meus pensamentos quando Paulo me cumprimentou. 

- A moça que saiu se magoou? - joguei verde para arrancar alguma informação dele. 

- Não cara, ela que se ficou stressadinha e saiu correndo, não entendi muito bem, mas deixa pra lá. Já escolheu a candidata? - aquela história não me pareceu muito convincente mas ele não tinha porquê mentir. 

- Veio fazer audição de quê? - interroguei curioso.

- Paulo ainda bem que terminou a reunião, Luan o Dudu e a Joana já selecionaram algumas meninas.-Roberto interrompeu.

- Vamos lá. - Paulo me puxou para junto da galera e Rober nunca mais voltava.

Conferi as meninas que eles tinham selecionado e descartei, pois não estava com mais cabeça para pensar nisso. Continuei vendo e Rober apareceu um tempo depois. Aproveitei que todos conversavam para saber da Maria Clara.

- E aí cara? - sussurrei. 

- Ela pediu um táxi e foi embora. 

- Porque você demorou tanto então?

- Fiquei vendo se ela se acalmava, até água lhe ofereci mas ela me olhou com cara de poucos amigos.

- Essa é a Clarinha. - ri e Rober me olhou confuso.

- Vocês já... 

- Não cara, ela é bem difícil e não é qualquer cantada que a derrete não. - falei lembrando  

- Nossa, até a irmã do seu amigo cê quer pegar garoto? - zoou e levantei uma sobrancelha.

- Quem disse que quero pegar? Apenas joguei meu charme pra cima dela, mas não colou não. - rimos. - Rober liga para o Hugo e marca uma hora para o ínicio da tarde, quero ir lá em casa dele.

- Vai compor?

- Não é da sua conta o que vou fazer, preciso apenas de ir lá a casa.

- Já entendi. - riu e lhe dei um tapa na nuca.

Entre catálogos e mais catálogos acabámos por remarcar a reunião para dali a alguns dias. Nenhuma daquelas bailarinas se encaixava e Paulo ficou de arrumar mais umas tantas para a gente selecionar. Depois do almoço segui rumo a casa de Hugo. 

- Tenho umas letras aí para te mostrar. - me disse assim que entrámos no estúdio. 

- Me mostra aí cara.

Desde que cheguei não dei conta de estar mais alguém em casa. Seus pais eram advogados e viajavam bastante pelo país para defenderem as suas causas. Minha cabeça persistia em pensar na Maria e tinha de arrumar uma desculpa para a ver.

- Boi a sua irmã está em casa? - ele me olhou desconfiado e me expliquei - A Bruna pediu o celular dela para se falarem. - dei uma desculpa esfarrapada. 

- Ela deve estar na academia dela.

- Academia? Malhando? 

- Não cara. - riu perante a minha cara de confuso - Minha irmã é bailarina, dança balé desde os três anos de idade. 

- Não sabia. 

- Pois é, meus pais não apoiam sabe, mas é o que ela ama fazer e então passa horas lá ensaiando para audições. Está em busca de uma agência que a financie e a lance, mas é bem complicado hoje em dia.- agora entendi porque ela estava lá de manhã. 

- Mas se ela realmente for muito boa no que faz não tem pra mais ninguém. 

- O problema é que ela não é muito boa, ela é perfeita, e muitas agências não valorizam e então acabam por a inferiorizar. 

- Posso lá ir então? - cocei a nuca nervoso. 

- Passa no quarto primeiro, se ela não abrir, você vai no andar de baixo e perto da porta da garagem lá nos fundos tem uma porta de madeira bem rústica, ela estará lá. 

Assenti e saí do estúdio para o quarto dele, já que tinha acesso direto. No corredor procurei aquele que deveria ser o quarto dela e ao fundo vi uma porta com uma imagem de uma bailarina de balé. Como nunca reparei nisso aqui? Bati imensas vezes e nada dela abrir. Concluí que estivesse na academia. Desci e assim que me aproximei da porta ouvi uma doce música ecoar assim como um choro baixinho mas perceptível. Abri a porta mesmo sem bater e a vi no chão abraçando as pernas enquanto sufocos saiam de sua garganta. Afinal a menina doce como limão também era frágil como uma flor. 

Eita, quanto acontecimento! Luan foi escoher a bailarina mas acabou esbarrando na Maria Clara de novo, kkkk esses dois só  se chocam. Parece que ela foi lá para uma audição, mas será que o que aconteceu e a fez chorar foi mesmo o stress como o Paulo informou? Luan arrumou uma desculpa para a ver e saber mais acerca disso mas a viu chorando. O que ele irá fazer? Ela vai receber de boa a visita dele ou vai dar mais patadas? Comentem amores! Fico super contente por ter leitoras novas e as de sempre comigo e além do mais, fico super feliz em saber que estão gostando.